MAIOR FESTA DO DIVINO DE SANTA ISABEL

A Festa do Divino é uma celebração de origem católica realizada, geralmente no dia de Pentecostes. Apesar de suas raízes religiosas, vários elementos populares foram incorporados à festa como o levantamento do mastro e queima de fogos de artifícios. No Brasil, o festejo chegou com os portugueses e pode ser encontrado em várias cidades, em Santa Isabel, a comemoração, por conveniência, em 1912, ocorreu no mês de outubro, inobstante a festa deva ser comemorada cinquenta dias após a Páscoa, assim preconiza a agenda católica.

 

De rigor, a festa do Divino começa no dia de Pentecostes, quando é escolhido um festeiro que será o responsável pela condução da celebração. Em algumas regiões os bispos são os responsáveis pela indicação, aqui o sorteio, realizado um ano antes, definiu que o festeiro, em 1912, ficaria por conta do Senhor Felisbino Rodrigues dos Anjos, os mais antigos, por certo, irão se lembrar do João do Bino e do Zé do Bino, pois saibam que eles eram filhos do festeiro, seus netos e bisnetos ainda vivem na cidade, a Cidinha do cartório, a Vera Helena, Cristina, Benedita Ivone e Lucia são bisnetas do Felisbino.

 

O festeiro era comerciante e o maior fabricante de ferraduras, arreios e acessórios equinos da região, sua produção era muito consumida na capital, seus principais clientes eram a Divisão de Cavalaria do Exército e a Polícia Militar, tudo devido a qualidade de seus produtos, feitos com esmero e dedicação. Além dos negócios, Filisbino era vereador, membro do Tribunal do Júri, influente político na cidade e ocupava importante cargo no Partido Republicano Paulista – PRP.

 

Em julho de 1912, a comunidade católica, por conta da construção da nova Matriz, deixou de realizar a festa da padroeira, de tal sorte que a comemoração foi realizada em outubro daquele ano em concomitância com a Festa do Divino. Santa Isabel realizou a maior festa religiosa de todos os tempos, assim afirmavam os jornais da época, em especial o Correio Paulistano de 29 de outubro de 1912.

 

Felisbino era bem relacionado na capital, lá mantinha uma casa e um galpão para estocar suas mercadorias, assim, houve por bem, contratar uma empresa só para cuidar da iluminação, ele queria o Largo do Rosário artisticamente arranjado com bambus em forma de arcos onde os lampiões a gás eram dependurados. Nas proximidades de sua residência foi armado um coreto para receber o império que ostentava abajures com lâmpadas alimentadas de óleos vegetais, produzindo uma forte iluminação muito parecida com a luz elétrica.

 

Para cuidar do espetáculo pirotécnico, Felisbino trouxe o Sr. Modesto Pedrosa conhecido fabricante de fogos de artifício e girândolas que foram distribuídas nos quatro cantos do Largo do Rosário e no alto, onde se construia a nova Matriz, iluminando o céu que cobria a cidade.

 

O pessoal que vinha da roça e cidades vizinhas, acomodaram-se nas inúmeras pousadas e hospedarias da cidade, a eles foi servido um excelente mastigo a base de pirão de carne, batata e legumes, na sobremesa foi servido doce de abóbora com coco ralado e um digestivo de licor de jabuticaba ou cafezinho, pois barriga vazia não dá alegria, dizia Felisbino.

A parte religiosa constou de missa cantada e procissão sucedida do sermão proferido pelo Padre Francisco Bartolomeu. No dia seguinte, domingo, com menos pompa que o sábado, a festa continuou saindo pelas três horas da tarde uma concorrida procissão que percorreu as principais ruas da cidade.

Assim foi a maior Festa do Divino já ocorrida em Santa Isabel.

 

ISAIAS B. BUENO, outubro de 2021.