UM POUCO DA HISTÓRIA

Quase nada documenta o surgimento da Fazenda do Morro Grande, uma enorme pedra de granito, sentinela de dois vales: de um lado o vale do hoje rio Parateí e do outro o ribeirão Araraquara e o rio Jaguari, todos contribuintes do rio Paraíba do Sul. Terras férteis e irrigadas logo chamaram a atenção das levas que a caminho do sertão desbravavam o interior do Brasil. Possivelmente a fazenda tenha surgido ainda nos tempos das sesmarias, quando os “Capitães” distribuíam terras aos cuidados de beneficiários para que as cultivassem e ocupassem o país.

A ocupação desses vales deu-se em decorrência do esgotamento da lavra de ouro nos sertões de Minas. Retornando para a Vila de Santana de Mogi das Cruzes e para a Vila de São Paulo de Piratininga em busca de novas atividades, muitos paulistas vieram ocupando as terras às margens dos rios e nas encruzilhadas dos caminhos, dedicando-se às terras onde se cultivavam a cana, o arroz, o milho e o feijão e, mais tarde, a partir do final do século XVII, o café. Dedicavam também ao comércio, na exploração do pouso dos tropeiros, do movimento de compra e venda de animais e outros produtos vindos do litoral como o sal, tecidos e óleos.

Assim surgiu a capela de Morro Grande que em 5 de janeiro de 1812 foi elevada à categoria de Freguesia por ato do bispo de São Paulo, Frei Manoel Joaquim de Andrade, que nomeou como primeiro vigário da pequena comunidade, o padre José Veloso do Carmo cuja função era representar não só as autoridades religiosas, mas também o Governador da Província e o próprio Rei.

Naquele mesmo ano de 1812 o povoado foi elevado à categoria de Vila e tem designado o seu primeiro Juiz de Paz, que na prática atuava como “Intendente”, uma espécie de Prefeito que, além de promover o registro de casamentos, nascimentos e óbitos, gerenciava os poucos recursos que a comunidade arrecadava sob a forma de tributos e enviava à Coroa.

A Vila cresceu assim com população escassa, se inter-relacionando entre poucas famílias dedicadas à cultura de subsistência, festas religiosas em devoção aos santos padroeiros e ocupando áreas devolutas que o povo identificava pelo nome familiar.
No dia 10 de julho de 1832 ato do Regente do Império Padre Antonio Diogo Feijó decide pela maior ocupação das terras paulistas e desmembra, da área de terras do Município de Mogi das Cruzes, uma gleba para a criação de Santa Isabel. Mas somente quatro meses depois, em 13 de novembro, a Câmara Municipal de Mogi recebe o decreto emitido pelo Ministro do Império, Nicolau Campos Vergueiro, comunicando a criação do novo município e determinando a realização de eleições dos primeiros vereadores.
As eleições aconteceram em 8 de junho de 1833 e escolheu entre os fazendeiros oito “Homens Bons” para ditarem os destinos do município e “sustentarem a felicidade pública”. Pouco mais de um mês depois, em 3 de julho foram empossados: Capitão Antonio Caetano de Souza; Capitão Gabriel José Barreto Lima; Capitão Francisco Xavier Arantes; Alferes Ignácio Pereira Ramos; Capitão Antonio Rodrigues Pinto; Capitão Antonio Mendes de Andrade; Alferes Joaquim de Souza e Alferes Francisco Ferreira de Araujo. Eram remunerados com o soldo de 25 mil e 200 réis por ano.

Naquele ano de 1832 Santa Isabel contava com uma população de 1.130 homens, 1.015 mulheres brancas, 254 pardos livres e cinco negros livres. A população escrava era constituída de 454 pessoas entre pardos e negros. Era uma cidade com 326 casas e uma escola de primeiras letras com 30 alunos. Naquele ano nasceram 70 crianças do sexo masculino, 56 do sexo feminino, todos brancos. Entre os cativos 11 meninos e dez meninas. O cemitério registrou a entrada de 39 corpos de homens, 41 mulheres brancas, um escravo homem e cinco escravas mulheres. A cidade se dedicava à cultura do café que chegara a essas terras no final do século XVII e da cana que já fazia a fama do lugar graças a uma cana de colmo fino, ideal para a produção de aguardentes.

Se o crescimento da cidade foi rápido, também foi rápida a sua decadência. Em 1864 Santa Isabel se torna Comarca, mas isso pouco significa na vida da comunidade. A decadência do café no Vale do Paraíba provocada pela emigração da população para as terras mais ricas do oeste paulista, retira os habitantes e investidores do município. As propriedades perdiam o valor e não compensava aos herdeiros nem mesmo fazer inventários devido ao alto custo desses e as terras iam, assim, se tornando simples posses, sem título que garantisse o patrimônio.

A ruína se torna preocupante e o poder público temerosos em 1892 edita a Lei nº 5, que em seu artigo 6º dispunha “Todo proprietário que tenha prédio em ruína e enfeie o embelezamento da Vila pagará anualmente 50$000 réis”. De nada valeu a Lei, não havia dinheiro: Santa Isabel sustentava-se principalmente pela indústria extrativa, produzindo lenha e carvão que abastecia a próspera capital do Estado, causando o desmatamento da maior parte de seu território.

Sua primeira indústria manufatureira foi uma pequena tecelagem de juta, fibra vegetal comum na região, que só se estabeleceu em 1915, encerrando as atividades anos mais tarde. No mais havia a fabricação de tijolos e telhas, mas a grande atração era mesmo a cachaça, algumas ainda destiladas em alambiques de barro. Na década de 20 existiam mais de 80 engenhos operando na região. Contudo, uma praga insidiosa devastou os canaviais retornando à agricultura de subsistência com a venda das sobras para os viajantes e ousados comerciantes que transportavam os cereais nas tropas de animais que levavam a lenha e carvão para São Paulo.

Durante o governo do presidente Washington Luiz foi aberta a rodovia Rio a São Paulo, unindo as duas cidades mais importantes do país. Dessa estrada partiu um ramal que, passando por Itaquaquecetuba, atravessa Santa Isabel e, morre abruptamente em Igaratá. A construção desse ramal é um marco na vida da cidade. Veículos motorizados passam a circular e alguns ônibus iniciam a ligação com a capital paulista, em dois horários. As terças feiras, às 10 horas, quando era pontual, o ônibus chegava de São Paulo. Embarcados nele viajavam o Juiz, o Promotor, o Delegado e alguns advogados que militavam no fórum. Em 1945, quando é inaugurado o Posto de Saúde, um passageiro se acrescenta aos viajantes: o Médico. Todos regressavam a São Paulo no ônibus das cinco horas da tarde.

O poderoso impulso no progresso de Santa Isabel inicia-se em 1948 com a construção da Rodovia Presidente Dutra. Cinco anos depois, a Tecelagem Lanifício, inaugurada em 1953, traz novas famílias para a cidade que começa a recuperar seu dinamismo com a instalação de outras fábricas. A energia elétrica, antes fornecida por um pequeno gerador movido pelas águas do ribeirão Araraquara, passa a ser oferecida pela CESP (Centrais Elétricas de São Paulo) e até mesmo o serviço telefônico começa a operar integrando definitivamente o município ao restante do país.

Fonte: Texto extraído da cartilha da Lei Orgânica do Município de Santa Isabel (Revista e atualizada em 2019)

Foto: Divulgação